em Antropologia, Existencialismo

Anotações de um tópico da aula “O tempo de vida humana”, de nosso curso de Antropologia Filosófica.

O tempo de todos os seres vivos está fortemente relacionado com os astros, e com a natureza: há um “tempo de nascer” análogo à Primavera; e um “tempo de morrer” paralelo ao Inverno. A noite é o tempo de dormir, e a manhã é o momento do despertar.

Há uma harmonia entre a natureza e o ritmo de vida do homem e dos animais. Esse ritmo não diz apenas respeito ao corpo, mas também se relaciona com os sentimentos: os dias nublados nos deprimem, o crepúsculo induz à melancolia, o ar puro e o mar nos descansam a alma, etc. Durante milênios o homem viveu como que “embalado” pelo ritmo do tempo natural.

Atualmente o modo ordinário de vida se distanciou muito desse convívio com a natureza. O homem moderno quer se assenhorear do tempo, e a maneira que ele tem para fazer isso é a velocidade, isto é, a redução do tempo natural dos processos. A velocidade é uma ganância do tempo com o uso da técnica. Essa “mania” de vencer o tempo gera uma patologia – uma doença – chamada pressa. O homem moderno é um homem com pressa. A velocidade é o único prazer inventado pelo homem moderno. Seu grande perigo é que ela altera os ritmos naturais. Isso se vê na tirania do relógio, uma forma de dividir o tempo para o aproveitar melhor.

Um axioma básico no mundo atual é que o tempo é um bem escasso: fazer mais coisas em menos tempo é uma das grandes necessidades. A competitividade na vida econômica consiste não tanto em vencer o adversário, mas em chegar antes dele.

Queremos “ganhar tempo” até mesmo quando isso não é necessário. A vivência da velocidade se dá no campo do ócio, do lúdico e do esporte, onde aparece a mania de quebrar recordes. No campo do trabalho a mania de velocidade leva à atividade febril, ao estabelecimento de metas absurdas, a agendas lotadas, a tensões de todo tipo. As pessoas não são julgadas pelo que são, mas pelo que fazem.

É óbvio que essa forma de cultura da produtividade instrumentaliza o homem. Mas há mais e pior: essa pressa e pressão por velocidade altera os ritmos humanos naturais. Essa alteração tem duas manifestações principais: de um lado o “doping”, isto é, o aumento artificial da capacidade de rendimento físico, mental e psicológico por meio de estimulantes; e de outro lado o estresse, o esgotamento nervoso, que se combatem com calmantes. Somos a sociedade da pressa: o normal é estar correndo, sem se deter para contemplar a beleza do que foi feito, porque temos que correr para fazer mais.

Será isso realmente necessário e condizente com a natureza humana? Uma via diferente dessa, e muito mais concorde com a natureza e o ritmo humanos poderia seguir os seguintes parâmetros:

  1. Redescobrir a lentidão. Abolir a pressa, ser donos do tempo e da situação, viver com serenidade, sem sobressaltos, não fazendo-se escravos dos horários, nem dos resultados, nem da planificação. As grandes obras e os grandes gozos não se saboreiam correndo.
  2. Incrementar as experiências pessoais: A tranquilidade supõe um enriquecimento da pessoa e de sua interioridade. Somos os verdadeiros donos de nossas obras, e para as criar, contemplar, aperfeiçoar e manifestar necessitamos dessa tranquilidade e do tempo.
  3. Praticar a contemplação: Apenas quem abandona seus interesses imediatos é capaz de contemplar: “Não é correndo, não é no tumulto das pessoas e na pressa de cem coisas atropeladas que se conhece a beleza”. A solidão, o silêncio, o repouso, são necessários para todo nascimento, e se alguma vez um pensamento ou um trabalho de arte surgem como um relâmpago, é que houve antes uma longa incubação de morosidade”. Em um mundo que perdeu a paciência, há que aprender a esperar.
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